Nas avenidas das grandes cidades, as pessoas atravessam a rua olhando para o smartphone, de cabeça baixa. Nos automóveis, enquanto parados na sinaleira (às vezes mesmo em movimento), as pessoas de olho nas mensagens. WhatsApp, Facebook ou Instagram. As redes sociais.
Nos teatros (e até no cinema), a todo momento uma espiada de cabeça baixa. No restaurante, no cabelereiro, no ônibus, nas compras do supermercado, na aula da faculdade, um olho lá outro cá. Até o sermão do padre é de cabeça baixa, pois a Bíblia vem escrita ali na telinha.
Enfim, toda a gente em qualquer lugar de cabeça baixa. No consultório médico não é diferente: agendamento, prescrição – em alguns casos a própria consulta – se faz de cabeça baixa. Outro dia em um serviço de urgência, entrada, descrição dos sintomas, detalhes do mal-estar, receita on line, e nem conhecemos um ao outro: tudo de cabeça baixa (vale no computador), incluindo a compra na farmácia.
Até a televisão nós assistimos de cabeça baixa. Hiperfoco ou minimização do olhar? Sinal de alegria ou de tristeza? Direita ou esquerda? Malabaristas da visão? Nada disso. Apenas um novo tipo de homem e de mulher. Uma geração que vem com a cabeça pregada no ecrã. Somos sujeitos smartphonistas.
Mas nada de saudosismos. Essa nova espécie humana, como tudo na vida, possui prós e contras. Até arriscaria a dizer que ela carrega muito mais pontos positivos de que negativos. De qualquer forma, é um caminho sem volta, com certeza, pois é para a frente que se anda. E agora se anda mais rápido do que nunca.
Apesar disso, não deixa de ser estranha essa civilização tão avançada composta por pessoas de cabeça baixa. Às vezes, até dá a impressão de que é o mundo que está de cabeça para baixo!
Jorge Trindade
Advogado e psicólogo.
Pós-doutorado em Psicologia Forense
Doutor em Psicologia, Doutor em Ciências Sociais e Professor
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